II Simposio do Laboratório Gestaltico


Data: 1º de junho de 2012

No dia 1º de Junho de 2012 o Laboratório Gestáltico: configurações e práticas contemporâneas realizou na UERJ, com sucesso, seu II Simpósio com o tema “Tempo e Vida: Angústias e configurações contemporâneas.”
Tivemos cerca de 150 participantes dentre mais de 200 inscritos, sendo profissionais e estudantes de diferentes instituições e períodos, imprimindo ao evento um toque de diversidade e integração. O tema, bastante atual e pertinente, revelou discussões interessantes acerca das configurações da vida contemporânea, nossas rotinas e impasses e de nossas práticas em diferentes áreas e segmentos de atuação.

Nosso dia teve início com uma mesa redonda composta pelas psicólogas Ana Claudia Monteiro (UFF) e Mônica Botelho Alvim (UFRJ) que nos brindaram com suas reflexões acerca do tema, onde tivemos bastante tempo para trocas, acréscimos e desdobramentos com o publico presente. No período da tarde pudemos escolher experimentar as “Rodas de Conversa” que, dinamizadas por profissionais da área, visaram incluir e acolher diferentes falas e perspectivas em torno dos temas propostos sob uma perspectiva gestáltica: a roda de conversa sobre os desdobramentos do tema na infância e adolescência dinamizada por Luciana Soares (UCL) e Laura Quadros (UCL/UERJ); a roda de conversa sobre os desdobramentos do tema nos sistemas familiares, dinamizada por Teresinha Mello (UERJ) e Márcia Estarque (IGT); a roda de conversa sobre os desdobramentos do tema nas instituições hospitalares dinamizada por Cristiane Esch (UERJ) e Juliana Mattos (Gaffrée e Guinle/ HSE/ Grupo AconteSer Gestalt-Terapia) e a roda de conversa sobre os desdobramentos do tema na vida universitária e no trabalho dinamizada por Patrícia Lima(UFF) e Alexandra Tsallis (UERJ). Encerramos o dia com a palestra da psicóloga Luciana Cavanellas (FIOCRUZ) sob o titulo "Gestalt Terapia: Ponte entre Mundos na Delicada e Complexa Aventura Humana" onde, de forma extremamente sensível, nos possibilitou a passagem do falado para os nossos “vividos”!
Sob o tempo regido por Cronos mas na intenção de qualidade inspirada por Kairós, vivenciamos um encontro que se constituiu numa pausa diante do agitado cotidiano que nos impõe as demandas da contemporaneidade. Parar, respirar, dizer, escutar, sentir, apreciar, experiências simples que buscamos resgatar nesses momentos que compartilhamos a proposta de discutir o tempo, com tempo, em tempo e a tempo... Saiba mais...

Na era das tecnologias avançadas e do incessante fluxo de informações que nos atravessam, o tempo torna-se um luxo nem sempre acessível a todos. Nesse lugar onde constituímos a formação de profissionais que vão atuar nos desdobramentos subjetivos de nossas humanidades, que angústias o tempo que passa e o tempo que para, podem gerar? Que sentidos podem ser atribuídos ao tempo na relação terapêutica que se estabelece em campos diversos? Temos tempo para discutir o tempo?

Não tenho tempo! Não sobra tempo! Estou sem tempo!!!

Embora essa seja uma afirmação contemporânea, a relação homem/tempo, constituía-se numa preocupação já na Grécia antiga, onde as figuras mitológicas de Cronos e Kairós se confrontavam na regência do tempo.

Na mitologia, para governar o mundo Cronos castrou o seu próprio pai e matou cinco dos seis filhos logo ao nascerem (somente Zeus sobreviveu, salvo pela mãe) temendo perder seu reinado. Ele é, então, o Deus que quer conservar a ordem tal como ela se estabelece pelo medo de ser privado de seu poder. É o Deus do tempo mensurável, das horas que passam sob a égide dos números e dos ponteiros dos relógios que medem, controlam e se apoderam do nosso tempo.
Assim, podemos dizer que Cronos revela-se na necessidade atual do homem de controlar suas ações e realizações pela marcação do tempo. Contar e calcular o tempo tornou-se um modo de vida que nos atém aos relógios e agendas e, se por um lado nos organiza, por outro nos pressiona e, talvez, nos aproxime dos anseios de Cronos levando-nos a acreditar que temos o poder de fazer o tempo se multiplicar, multiplicando o número de compromissos e tarefas no nosso espremido e agitado cotidiano. Cronos tem seu lugar. Mas devemos dedicar-lhe todos os lugares?
Kairós, por sua vez, filho de Zeus e, portanto, neto de Cronos, na queria reinar sobre o mundo. Ele age no fluxo de sua vivacidade e pode ser identificado por sua ousadia e espontaneidade, como o adolescente cheio de vitalidade e ânsia de viver. O tempo para Kairós é o tempo do vivido, o tempo existencial que é marcado pelas experiências em sua intensidade, como contemplar uma bela paisagem, saborear as delícias de um bom alimento, a alegria de uma celebração, enfim, um tempo diferenciado pela qualidade, sem a ênfase da quantificação defendida por Cronos.

Cronos e Kairós. Uma tensão permanente? Podemos articular ambos os deuses, Cronos e Kairós, numa possibilidade mais harmônica? As demandas contemporâneas nos permitem esse diálogo? Não buscamos aqui a utopia de um equilíbrio ou a idealização de nossa relação com o tempo hoje. A proposta desse evento foi dar um tempo... Pra dizer, para escutar, para ver, para sentir, para encontrar, para perceber, para contar, para encantar, privilegiando os pequenos arranjos possíveis. Nos propusemos a criar essa oportunidade de encontro e, a despeito da linearidade e imperativos do tempo, produzir coletivamente o tempo possível e abrir espaço para o possível do tempo, pois como bem nos mostra a sabedoria popular, não há respostas absolutas, apenas possibilidades ...

"O tempo perguntou para o tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo de dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem".


 

 

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